Quais as causas?
HIPERPROLACTINEMIA
5/27/20233 min read
Rodolpho Pinto de Mendonça


A hiperprolactinemia é um desafio no consultório do especialista. Consiste no aumento suprafisiológico dos níveis séricos de prolactina (PRL) no organismo, podendo gerar efeitos clínicos indesejáveis tanto para o homem quanto para a mulher. De todas as causas, o uso de medicações e os tumores hipofisários certamente ganham maior importância.
Podemos dividir a hiperprolactinemia em 3 fatores etiológicos: fisiológicos, farmacológicos e patológicos. A tabela 1 mostra as principais causas.


1) Fisiológicos. Estimulação mamária, estresse e exercício físico causam elevações discretas e transitórias nos níveis da prolactina, geralmente não ultrapassando 100ng/dL. Já a gestação bem como a amamentação podem elevar a prolactina a patamares da ordem de 400ng/dL;
2) Farmacológicos. Geralmente os antiácidos, opioides e procinéticos provocam elevações discretas na prolactina. Os antidepressivos e os neurolépticos representam cerca de 50% das medicações implicadas na hiperprolactinemia, sendo esta da ordem de 25-100ng/mL. A hiperprolactinemia pode estar presente em até 70% dos pacientes com esquizofrenia, sendo os antipsicóticos típicos, como o haloperidol, os mais propensos a elevar a prolactina. Isso se dá pelo efeito antagonizador dos receptores dopaminérgicos no eixo hipotalâmico-hipofisário. Drogas mais recentes como a risperidona e a olanzapina já mostraram também elevar os níveis de prolactina.
3) Patológicos. As neoplasias hipofisárias produtoras de prolactina (prolactinomas) representam importante destaque nesse aspecto, representando cerca de 40% dos casos. São tumores benignos em sua maioria e microprolactinomas, isto é, menores que 1cm. Até a quinta década de vida são mais frequentes nas mulheres. Todavia a partir da menopausa, a proporção se iguala entre os sexos. A maioria dos tumores são esporádicos, e menos de 5% dos prolactinomas são associados a síndromes genéticas.
O nível de prolactina tem correlação direta com o tamanho dos tumores, conforme demonstrado na figura 1. Para os microprolactinomas, os valores podem estar na faixa entre 200-500ng/mL. Já para os macroprolactinomas, esses valores são maiores que 250ng/mL, podendo chegar a patamares de 20.000ng/mL Há também os tumores cossecretores de prolactina e GH, os carcinomas hipofisários produtores de prolactina e por fim, os adenomas não funcionantes. Os primeiros correspondem a cerca de 20% dos casos de acromegalia. Os carcinomas hipofisários são raros (0,2% dos tumor. Já os adenomas clinicamente não funcionantes provocam hiperprolactinemia de intensidade leve (menor que 200ng/mL). Isto ocorre pelo efeito de compressão do tumor sobre a haste hipotalâmico-hipofisária, reduzindo a inibição dopaminérgica nos lactotrofos hipofisários).


O hipotireoidismo pode provocar aumento dos níveis de PRL via estímulo do hormônio liberador de tireotropina (TRH). Este por sua vez, atua no lactotrofo estimulando a síntese de prolactina. Em estudo com mais de 2800 pacientes, a prevalência de hiperprolactonemia foi de 42,1% nos pacientes com hipotireoidismo manifesto, e 34,9% nos pacientes com hipotireoidismo subclínico. É mais frequente quando TSH > 7,5mUI/L, e geralmente não excede 100ng/mL.
Bibliografia:
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