TIRZEPATIDA SEMANAL PARA O TRATAMENTO DA OBESIDADE – ESTUDO SURMOUNT 1
TERAPIA FARMACOLÓGICA - OBESIDADE
6/27/20234 min read


Rafael Buck Giorgi


Possivelmente este artigo, que conta com quase 500 citações em menos de 1 ano de publicação, é um dos grandes divisores de água na medicina. Esta medicação é a primeira de várias que deverão chegar no mercado nos próximos anos e que revolucionarão o tratamento da Obesidade. A invenção da Penicilina salvou muitas vidas. O isolamento da molécula de Insulina há 100 anos também. Mas esta classe de medicações possivelmente será a com maior potencial de poupar vidas levadas pela pandemia de Obesidade que temos no século XXI.
O estudo Surmount 1 foi um estudo que veio para mostrar a eficácia e a segurança desta medicação chamada Tirzepatida no tratamento da obesidade. Uma nova geração dos análogos de GLP-1 combinados com outros efeitos, como, no caso, estímulo da GIP. Abaixo você poderá observar a ação de ambos em diferentes órgãos.


Este ensaio clínico randomizado, duplo cego, de fase 3 contou com 2539 adultos com IMC > 30 ou > 27kg/m2 com alguma comorbidade associada a obesidade e separou em 4 grupos: Placebo e o uso de Tirzepatida nas 3 diferentes doses (5, 10 e 15mg semanalmente). O objetivo primário foi de mostrar perda de > 5% do peso inicial, critério este usado para dizer que uma medicação para obesidade é eficiente. O estudo teve duração de 72 semanas e teve como seu financiador o próprio laboratório que produz a droga.
Abaixo pode-se ver o gráfico que resume os resultados com relação a perda de peso nos diferentes grupos:


Mais surpreendente ainda, é que na dose máxima, 96% dos pacientes atingiram o desfecho primário de perder pelo menos 5% do peso. Mais da metade perderam 20% do peso e 1/3 mais do que 25% (abaixo). A importância destes dados reside no fato de que uma perda > 10% do peso já é possível falar em redução de mortalidade por grandes estudos anteriores.


Outro dado interessante é que todas as medicações existentes até hoje para o tratamento da Obesidade tem um efeito bastante heterogêneo, com bons e maus respondedores. Com a tirzepatida praticamente todos os pacientes tiveram algum resultado (ver abaixo).


Uma grande preocupação com esta classe de medicações seria sobre sua segurança em relação aos já conhecidos efeitos colaterais dos análogos de GLP-1. Náuseas (31%), diarreia (23%) e constipação (11,7%) foram os efeitos colaterais mais citados, como era de esperar (quando usado em doses máximas). De forma geral, estes efeitos ocorrem principalmente no início do tratamento e o escalonamento da dose pode reduzir este incômodo. No grupo placebo 2,6% dos pacientes descontinuaram o tratamento enquanto no grupo Tirzepatida 7% pelos efeitos colaterais.
Abaixo, incluímos um grande resumo com os principais achados do estudo:


Na minha opinião, este artigo além de trazer ao mercado (em um futuro próximo no Brasil, provavelmente no primeiro semestre de 2024) uma nova opção terapêutica para o tratamento da obesidade, abre um horizonte para estudo de novas moléculas não apenas com ação de agonistas de GLP-1 isoladamente, mas também em outras incretínicas.
Perdas de peso desta monta como mostrado no estudo Surmount 1 só foram vistas em estudos com Cirurgia Bariátrica. Obviamente a cirurgia bariátrica ainda tem o seu espaço mas à medida que tratamentos clínicos sejam tão eficazes e tão seguros quanto outros invasivos, existe uma tendência de nas próximas décadas as medicações tomarem um pouco do espaço.
Devemos lembrar que ensaios clínicos não mostram o mundo real. Precisaremos aguardar a chegada da medicação para avaliar como ela irá funcionar em nossa realidade já que além da aderência de medicações injetáveis ser baixas, o custo certamente será um fator limitante para a imensa maioria da população brasileira.
É esperar para ver!
Bibliografia:
Ania M. Jastreboff et al. N Engl J Med 2022; 387:205-216. DOI: 10.1056/NEJMoa2206038